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O nosso presente artigo tem por objetivo explicitar a forma como o Hinário O Cruzeiro é executado nos Centros autônomos que seguem a linhagem tradicional e original, a saber, Centros que não mudaram ou introduziram qualquer elemento estranho ou modismo, ou alteraram detalhes do ritual desde quando o Mestre era vivo e todos participavam na mesma sede (embora que, até entre esses Centros ocorram pequenas variações que serão analisadas a seguir).

Forma aqui, destaca-se, é a liturgia, o modus operandi de como um ritual qualquer ganha existência ao se perpetuar no tempo quando é continuamente repetido, e como a maneira ortodoxa do seu estabelecimento constitui-se em referencial e palavra de ordem e respeito até por aqueles Centros que abandonaram a constituição primitiva e passaram a incorporar nela outros elementos.

Diga-se também que, não consideramos que os Centros que tiveram nascimento logo após a passagem do Mestre e cujas lideranças conviveram com ele, alteraram ou modificaram deliberadamente a forma - objeto deste nosso estudo -, mas podem, via de tradição oral, não terem tido a devida ciência de tantos detalhes, ou deles, em determinado momento, podem ter se esquecido, fato normal, repete-se, quando se trata de tradição oral.

O Mestre Imperador Raimundo Irineu Serra, dono do Hinário O Cruzeiro, conforme atestam vários relatos de seus contemporâneos, era homem sistemático e caprichoso que fez o máximo possível para delimitar bem traçada sua Doutrina e deixá-la na condição de que não sofresse ulteriormente alterações no funcionamento básico de sua estrutura.

Deste modo, o seu hinário, podemos dizer, tem estabelecido um esquema de execução que funciona como um relógio suíço em termos de precisão e pontualidade; para tudo o Mestre o deixou muitíssimo bem marcado.

De início esclarecemos que a versão do hinário que praticamos no CICLU – FLOR DO CÉU é a versão de canto e melodia de Percília Matos da Silva, comandante geral e zeladora do Hinário, cargos que foram a ela conferidos pelo Mestre em vida, e que acompanhou a evolução do seu hinário desde quando este tinha apenas três hinos. Chamamos a esta versão de “versão arcaica”, uma vez que não é estritamente seguida na sede da dona Peregrina, mas que é profundamente diferente da executada em outras sedes advindas das várias dissidências. Esta versão encontra-se devidamente digitalizada e à disposição neste site, a partir de uma gravação cantada por ela de todo o Cruzeiro, e é o nosso referencial para estudo.

Segundo instrução dela, a execução do Cruzeiro completo (com a Confissão) somente é feita em quatro datas do ano, a saber: Reis, São João, Virgem da Conceição e Natal. Nesses dias canta-se também Sois Baliza, hinário de Germano Guilherme, na abertura, e no Centro da dona Peregrina canta-se o seu hinário A Bandeira, antes dos Hinos Novos. No Alto Santo, em qualquer data do Cruzeiro baila-se o Terra Fria e canta-se o mesmo hino nas sessões de Concentração.

Sobre a numeração do Cruzeiro ser de 132 hinos, embora achem-se enumerados apenas 129, apresentamos uma versão simplista: os hinos de abertura (2) mais o hino instrumental (Marchinha) fecham a conta.

Todos os hinos são cantados apenas uma vez, com exceção dos hinos 33, 38, 56, 95, 112, 116 e 121 que são cantados duas vezes, e dos hinos 2, 3, 17, 25 e 115 que são cantados três vezes.

O hino Marchinha (entre os hinos 126 e 127) é apenas instrumental, sem nenhuma letra, ou seja, com as vozes em total silêncio, três vezes. Se optar-se por fazer o solo, quatro vezes.

O hino Oferecimento, 25, é cantado apenas no festejo de Reis, após o fechamento do hinário e não na ordem dele.

Os hinos 07 e 14 são cantados apenas na Missa de Finados e não compõem a linha de baile.

O hino Refeição, 05, não compõe a linha de baile, sendo cantado apenas em almoços, jantares ou confraternizações, com a seguinte variação: antes de comer “Que hoje neste dia é quem dá o nosso pão”, após comer “Que hoje neste dia foi quem deu o nosso pão”.

Somente nos hinos 28, 42, 50 e 92 repetem-se as estrofes após a repetição do terceiro e do quarto versos de cada uma.

Os hinos de fogos ou foguetes são, no início dos mesmos, os de número 1, 16, 29, 33, 41, 45, 50, 56, 66, 67, 84, 95, 117, 128.

Os hinos onde se dão vivas são, antes dos mesmos, os de número 1, 11, 16, 21, 29, 33, 41, 45, 50, 56, 66, 67, 79, 84, 95, 105, 108, 117, 124, 128. Importante dizer que os vivas corretos são: Primeira pessoa – [variável de acordo com a data: viva os Três Reis do Oriente 05/01, viva o Patriarca São José 18/03, viva São João Batista 23/06, viva Todos os Santos – até a meia-noite - 01/11, viva Nossa Senhora da Conceição 07/12, viva Raimundo Irineu Serra 15/12, viva a Noite de Natal 24/12], viva o Divino Pai Eterno, viva a Rainha da Floresta, viva Jesus Cristo Redentor, viva o Patriarca São José (não se repete este em 18/03), viva Todos os Seres Divinos, viva o nosso Chefe Império, viva toda a Irmandade; Segunda pessoa – viva o Santo Cruzeiro. Estes são os vivas tradicionais, limpos, como foram concebidos. No Alto Santo e em outros Centros dá-se viva o Nosso Presidente e viva o Dono do Hinário (quando não for O Cruzeiro) – mas isso não é regra geral. Aqui informamos todos os vivas de acordo com o calendário oficialíssimo de trabalhos e não apenas do Cruzeiro, sendo certo que na Sexta-Feira Santa e na Passagem do Mestre 06/07 não se dá nenhum viva. Sendo assim, quando se está festejando algum outro aniversário não oficial da Doutrina como um todo, começa-se com viva o Aniversariante.

Os hinos onde se levanta (hinos de pé) são: 1, 16, 17, 29, 30, 45, 56, 66, 67, 81, 95, 108, 117, 124, 128, 129.

No hino Laranjeira, 60, a pessoa que dá o LARANJEIRA, deve postar-se de pé à frente da mesa; o primeiro refrão é cantado três vezes e o segundo também é cantado três vezes.

Não se emenda um hino no outro.

No hino Mãe Celestial, 09, no bailado a terceira estrofe canta-se “Que me dê a salvação e me bote em bom lugar". Na Missa canta-se “Que te dê a salvação e te bote em bom lugar”.

As Diversões reconhecidamente do Mestre são 5, de Pra Pilar a Aurora da Vida, e são cantadas, sem bailado, sem maracás e batendo palmas para marcar o ritmo, no intervalo do Cruzeiro.

Com este breve ensaio, esperamos ter sido úteis para aqueles Centros que queiram seguir o ritual do Cruzeiro conforme o seu dono assim o deixou. Outras matérias ritualísticas serão abordadas em futuros artigos, dos quais este primeiro abre a série a ser publicada.


Santa Luzia, 13 de dezembro de 2012.


Eduardo Gabrich

 

duardo Gabrich