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A seguir alguns tópicos que para nós, Centros independentes
que seguimos o ritual tradicional conforme praticado no Alto Santo, são normais
e naturais, mas sobre os quais sempre somos procurados em busca de informações.
As terminologias tradicionais usadas são: DOUTRINA, e não religião, seita
ou culto - com tradição, fundamentos, liturgia, disciplina e hierarquia bem
determinados e próprios; CENTRO, para designar o núcleo; SEDE, e não igreja,
para designar o local dos trabalhos; PRESIDENTE, e não padrinho, para designar
o dirigente da casa.
Não se deve convidar ninguém para tomar o Daime, ou
oferecê-lo como promessa de cura, ou se fazer qualquer tipo de proselitismo,
devendo-se ter discrição pública ao se falar sobre o assunto. Filmagens, fotos
e gravações para divulgação em redes sociais devem ser evitadas para não haver
exposição de pessoas que assim não o queiram, e para que também não pareça
propaganda fanática, isso tudo valendo também em relação à imprensa, que
poderá, a critério do presidente, fazê-las no conjunto, mas nunca de alguém em
situação pessoal ou entrevistas durante o trabalho.
Na entrada, todos devem
assinar o livro de presença. Na sede há um recinto interno, onde bailam os
fardados, e um recinto externo ao setor de baile, ou varanda, onde ficam os
visitantes. A sede, a disposição das filas de bailado e a mesa são
retangulares, esta última com sete cadeiras. Na cabeceira da mesa fica uma
cadeira destacada, do MESTRE-IMPERADOR, ao lado da cadeira do presidente.
A mesa é composta apenas com um pano branco, o cruzeiro padrão (com as
devidas proporções e pontas, sem estrelas em cima ou embaixo ou no meio, com o
terço) – havendo em frente a este, no lado voltado para o fundo da sede, um
castiçal com três velas - e com quatro jarros de flores, um em cada canto da
mesa. Não se usam estátuas e figuras de santos, fotografias, copos de água,
incensos, velas debaixo da mesa, etc.
Ao fundo deve haver lugar
destacado para as bandeiras do Brasil, do Estado e da Doutrina, e uma
fotografia do MESTRE – IMPERADOR, bem como um palco para os músicos, que não se
sentam à mesa central.
O Daime não fica simplesmente em cima de uma mesa, à
vista de todos. Deve ter um quartinho no fundo da sede para sua guarda e a
serventia é feita através de janelas laterais do lado dos homens e das
mulheres.
Os hinos recebidos devem ser apresentados ao presidente para
aprovação, lembrando que não é permitida mistura de linhas. O hinário não deve
ultrapassar a marca de cento e trinta e dois hinos. É vedada a execução ou
audição de hinos em ambiente público não adequado, e mesmo entre irmãos quando
não haja situação de silêncio e atenção propícia. Antes de alguém estar aberto
ao recebimento de hinos próprios, é importante que saiba cantar os principais
hinários de cor.
Para melhor preparação e aproveitamento, é necessário o
cumprimento de dieta sexual, alcoólica e outros inebriantes durante três dias
antes dos trabalhos e dos feitios.
Ao receber o
Daime, utilize a mão direita e diga: "Deus nos guie". Passe o copo para a mão
esquerda, benza-se, volte o copo para a mão direita e tome. Quem está servindo
deve usar a mão direita.
É necessário estar com as fardas padronizadas,
limpas e passadas. Homens barbeados e com cabelos aparados, com sapatos
sociais, meias, cinto e gravata pretos. Mulheres de meias brancas e calçados
brancos. Estrelas, coroas, rosas e palmas conforme padronização da casa. Blusas
de frio brancas de modelo aberto, cachecóis e gorros brancos. Deve-se evitar
qualquer outro tipo de adereço sobre a farda. As fardas devem ser vestidas - ou
pelo menos compostas com estrela, gravata, coroa, saiote, alegrias,
rosa e palma, somente nos recintos do Centro, e neles devem ser trocadas, ou
pelo menos delas retirados aqueles adereços, assim que acabam os trabalhos.
Ao entrar ou sair da fila de bailado ou da fila de cadeiras quando se faz o
trabalho sentado, deve-se fazer o sinal de continência com o braço esquerdo e
esperar resposta do puxador da fila, dando-se ciência a este se vai haver
demora para voltar. Sempre deve-se entrar ou sair pela frente da fila, do lado
do puxador, e esperar o hino ou os vivas terminarem. Não se permitem espaços
vagos entre os lugares da mesma fila nem por um hino - se alguém sair e não for
demorar, o fardado imediatamente após avança um espaço sendo seguido pelos
outros, o último lugar daquela fila fica vago e, quando a pessoa retorna, todos
voltam aos seus lugares anteriores; se, porém, for demorar, o lugar deve ser
preenchido por alguém da fila de trás. O puxador da fila é responsável pelo
alinhamento correto da mesma. Ao entrar ou sair da mesa, deve-se usar o lado da
cabeceira da mesma.
Não deve haver comunicação entre homens e mulheres
no trabalho, exceto entre fiscais, havendo necessidade. O período permitido
para descanso durante o trabalho é de três hinos, com exceção natural de mães
com filhos pequenos, grávidas, crianças, deficientes, doentes e idosos.
O maracá, feito conforme padronização da casa – modelos masculino, feminino e
infantil -, é equipamento individual obrigatório nos trabalhos de bailado, e
terá uma pessoa responsável pela fiscalização, afinação e manutenção geral. O
maracá é sempre batido na palma da mão, na altura do umbigo. É vedado o uso de
cadernos na mão, sendo permitido o uso de estantes individuais, desde que não
atrapalhem o bailado e a livre circulação.
O bailado, as vozes, os
maracás e a música devem ser uniformes e compassados, firmes porém suaves, sem
que nenhum desses elementos se sobreponha aos outros; e sem que nenhuma pessoa
se sobreponha às outras também, com tudo formando e objetivando a alegre
harmonia dos nossos hinários. As filas são em ordem de altura. O bailado deve
ser todo por igual, como uma parada militar, observando-se o comandante,
evitando-se passos e trejeitos desiguais. Não se deve ficar olhando direta e
fixamente para os outros, a fim de não interferir no trabalho alheio e no seu
próprio.
Regra geral, os músicos fazem a entrada, o puxador do hinário
canta os primeiros versos e dá o ritmo no maracá, e só então, na repetição dos
primeiros versos, todos os outros entram bailando, cantando e tocando maracá.
No Alto Santo é vedado o uso de atabaques, tambores e instrumentos de
percussão.
É absolutamente necessário o mais profundo silêncio na sede,
em qualquer trabalho. Quando for preciso comunicar-se, deve-se falar apenas o
necessário, baixo e ao pé do ouvido do interlocutor, inclusive os fiscais.
Deve-se evitar o toque físico durante a sessão, principalmente quando a pessoa
estiver mirando ou em passagem delicada. Não se deve fazer uso de água ou de
outras substâncias ou alimentos durante os trabalhos, exceto nos intervalos.
Os fiscais são autoridades no trabalho e devem agir com educação e
gentileza, e devem ser, da mesma forma, prontamente atendidos pelos demais, sem
discussões ou impasses, em um bom clima de cooperação mútua. Quando escalados
pelo presidente a assumir horário e posto de fiscalização, todos devem estar
prontos e disponíveis.
Os vivas são dados apenas nos hinários e por dois
homens em pé, destacados para essa função, preferencialmente à cabeceira da
mesa, devendo-se ater àqueles tradicionais (1 - o divino pai eterno, a rainha
da floresta, jesus cristo redentor, o patriarca são josé, todos os seres
divinos, o nosso chefe império, toda a irmandade. 2 - o santo cruzeiro, o nosso
presidente, o dono do hinário - exceto no Hinário O Cruzeiro -, o (a) (s)
aniversariante(s) se for o caso) - e são respondidos por todos, homens e
mulheres, de maneira uniforme e solene. Durante os vivas não deve haver
deslocamento, nem para se sentar, se estiver de pé.
Antes da abertura
dos trabalhos ou após o encerramento e antes da ordem "fora de forma" podem ser
proferidas palavras de agradecimento, instruções, avisos, etc. Com os trabalhos
abertos, é vedado o uso público da palavra. Qualquer um que faça uso público da
palavra, inclusive o dirigente do trabalho, deve ter uma postura positiva,
transmitindo instruções e valorizando esforços, evitando-se qualquer tipo de
constrangimentos ou chamadas de atenção pessoais (para isso deve haver ensaios
e reuniões internas sobre ritual), demonstrando boa vontade e gentileza para
com todos.
A guarda do Daime em casa para uso em situações de enfermidade
deve ser feita em oratório com porta e nunca em quarto de casal.
Santa
Luzia, 29 de abril de 2018.
Eduardo Gabrich