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O Mestre deixou os dias 15 e 30 do mês marcados para as
sessões de Concentração. Além dos trabalhos de bailado, que se denominam como
festas ou festivais (com exceção da Sexta Feira Santa, da Passagem do Mestre e
do dia de Finados que são trabalhos mais solenes), as sessões de Concentração
são os verdadeiros trabalhos esotéricos que cada praticante deve participar no
intuito de fazer uma auto-avaliação quinzenal de sua vida à luz do Daime,
atualizando assim sua consciência espiritual. É a grande oportunidade para
mirar, uma vez que não se está preocupado em bailar, cantar, tocar, olhar para
os outros, etc.
Para se preparar, é importante que se esteja com as
fardas limpas e passadas, homens com sapatos sociais pretos engraxados,
estrelas polidas com produto polidor de metais. No dia de trabalho é bom fazer
uma alimentação mais leve. Ao se chegar à sede, faz-se o sinal da cruz em
frente ao cruzeiro de terreiro. Pode-se benzer-se ao tomar o daime, mas não com
o copo e sim com o copo na outra mão, e pode-se dizer Deus nos guie, tudo isso
bem valendo para todos os tipos de trabalhos.
A Concentração é muito
parecida com a meditação oriental. Nelas se busca o aquietar da mente cognitiva
elevando-se o pensamento para o encontro com o Eu Superior, que está além e
acima da mente ordinária do dia a dia, que nunca se encontra no aqui e agora,
sempre projetando ou relembrando fatos e emoções no futuro e no passado. A
verdadeira natureza da mente é silenciosa, plena, plana, limpa, quieta,
esvaziada, e nisso todos os budas e meditadores têm muito a ensinar aos
praticantes da Doutrina. Aprender a observar a mente, sendo de todo difícil
refrear o fluxo de pensamentos, é uma boa técnica, isso produz uma dissociação
consciente uma vez que o observador nunca pode ser a coisa observada. Prestar
atenção na respiração, repetir mentalmente palavras como Harmonia, Amor,
Verdade e Justiça, rezar, também ajudam a se conectar com o sagrado. Para se
chegar ao estado além da mente, é preciso muita prática e disciplina, portanto
o estudante não deve perder estas aulas que muito o ajudarão a manter esta
atitude espiritualizada no seu dia a dia. Desocupar o aparelho para poder se
trabalhar, como bem diz João Pereira, é o objetivo mor para que se possa
alcançar o desdobramento da consciência nos planos espirituais superiores e
assim se buscar o conhecer livre, desapegado da matéria.
Claro que durante toda a sessão estarão destacados fiscais para auxiliarem no
que for preciso. A Concentração stricto sensu dura uma hora e meia de silêncio
total. Em sedes onde existe barulho externo, pode-se ouvir gravações de
hinários apenas musicados. O Daime é servido uma única vez, em boa quantidade.
A mesa é ocupada apenas por homens. Comunga-se o sacramento (não se reza no
início do trabalho), senta-se, procede-se à leitura do Decreto de Serviço por
um mesário de pé - que após a leitura dá a ordem "Concentração Para Todos", e
inicia-se então o horário regulamentar de Concentração (uma hora e meia). Nesse
tempo, não deve haver deslocamentos ou produção de qualquer tipo de ruído, a
postura deve ser ereta, mãos nos joelhos e olhos fechados, pernas e braços
descruzados. Não se cantam hinos, ao contrário de alguns Centros que têm até
mesmo Hinários de Concentração - intercalando-se momentos de silêncio com
execução de hinos. Isso é totalmente contra o regulamento. Nem mesmo o
dirigente do trabalho deve falar qualquer coisa durante a prática. O período de
uma hora e meia de silêncio total é a regra. Lê-se o Decreto de Serviço
novamente pelo mesmo mesário de pé. Ato contínuo, cantam-se os "Hinos Novos"
(117 ao 129 do Hinário O Cruzeiro), sem instrumentos musicais nem maracás, com
apenas as mulheres de pé (os homens se levantam no último hino - Eu Cheguei
Nesta Casa, e nos Centros onde se canta o Pisei na Terra Fria, neste também),
não se dá vivas e encerra-se o trabalho da maneira costumeira (3 Pai Nosso e 3
Ave Maria intercalados, 1 Salve Rainha, mais a fórmula de fechamento). Desta
forma, todo o trabalho dura no máximo duas horas e trinta minutos e não
prejudica em nada quem tem suas obrigações a cumprir no dia seguinte. Quando as
Concentrações caem em dias de sexta, sábado ou véspera de feriado, pode-se
estender o trabalho (instrução do Sr. Pedro Domingos da Silva). Após o
fechamento do trabalho, o dirigente pode dar avisos, agradecimentos,
instruções, abrir a palavra, etc, antes de proferir a ordem "Fora De Forma".
São Paulo, 21 de dezembro de 2012.
Eduardo Gabrich