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Nasci em 1918, no dia 20 de janeiro. Era para ser Valcírio Genésio Serra, mas na hora da assinatura, botaram Silva, e assim ficou. O nome da minha mãe era Emília Rosa Amorim.

 

O Mestre chegou aqui em 1912. Logo ele subiu para Xapuri onde encontrou-se com um senhor, de nome Antônio Costa. Ficaram muitos amigos. Esse homem veio a ser o meu padrinho. Eram dois irmãos: Antônio e André Costa.

 

Quando nasci, meu pai trabalhava na seringa. Naquela época tudo era difícil. Não tinha transporte, somente de pé, varadouros, empurrado a varejão.

 

Acredito que meu pai chegou em 1914 em Brasiléia. Passou 1915, 16, 17, 18. No ano seguinte do meu nascimento, ganhei uma irmãzinha. Ela viveu somente um ano e oito meses. Fiquei morando em Brasiléia. Depois, quando eu tinha seis anos, meu irmão mais velho (filho do primeiro marido de minha mãe), foi até lá e conduziu-nos para o seringal, onde passamos nove anos. Depois voltei para Brasiléia, onde trabalhei, constituí família e nada de conhecer meu pai. Naquela época, só telegrama mesmo. Carta, correspondência, tudo era difícil. Tudo era conduzido nos lombos dos animais.

 

Apresentei-me a meu pai por intermédio de meus filhos. Tinha uma filha que estava fazendo um curso junto com a Percília, e lá elas se deram muito. Falaram do padrinho Irineu Serra e minha filha interessou-se por vir até aqui, no Alto Santo.

 

Por intermédio dessa minha filha, ele mandou fotos, jornais, entre outras correspondências. Assim pude fazer um pensamento de ir até a casa dele. Isso foi no dia 15 de agosto de 1970.

 

Ao visitá-lo pela primeira vez, eu tinha 53 anos. Eu não conhecia nem o caminho. Fui indagando a um e a outro, fui chegando, perguntando por ele. Ele estava repousando, me mandaram sentar. Eu não soube nem fazer o meu improviso a ele, que me abraçou com muita dedicação e carinho. Fiquei muito satisfeito!

 

Depois, de repente, num momento de descuido, ele me pegou e perguntou:

 

- Você não tem vontade de morar perto do velho?

 

Eu disse:

 

- Tenho.

 

E ao mesmo tempo lembrei-me que eu não podia dizer que sim, pois tudo que eu possuía estava reduzido em campo, criação, essas coisas secas. Eu não tinha condição. Para quem morava em município, principalmente naquela época, a vida era muito difícil.

 

Depois que ele saiu, eu resolvi não ir mais. Mas, com a insistência de Dona Peregrina, que disse me querer aqui, eu fiquei em dúvida. Muito satisfeito, hoje continuo aqui. Devo essa firmeza por intermédio de meu pai. Por intermédio de Dona Peregrina, continuo nessa Doutrina, o que muito me alegra. Vim a conhecer coisas que eu não conhecia, ver as coisas de perto, enxergar com novos olhos, com novo espírito. Isso é muito importante.

 

Agradeço de coração o convite de Dona Peregrina, depois que meu pai saiu. Isso, eu não esqueço nunca. Ela me recebeu com muito carinho, permaneci na casa dela por muito tempo. Hoje, estou aqui, justamente no local que ele determinou para eu ficar.

 

Vivo satisfeito. Não só eu, mas muitas pessoas que tiveram a oportunidade de compreender esse trabalho, pois é uma coisa que a gente vê de perto. Não há dúvida nenhuma. É uma coisa muito importante, muito limpa, muito clara. Se a pessoa estiver prestando atenção, o professor é o Daime e o livro é a palavra do Mestre. As palavras que saem, as explicações que saem, as instruções que saem, são muito importantes, muito excelentes. Sabendo aproveitar, é importantíssimo.

 

A caminhada é longa. Temos que ir com fé e coragem. Eu, pelo menos, digo que tenho fé em Deus de chegar lá no ponto determinado, sempre ao lado do nosso velho Mestre. Ele nos dá muita força e vontade, nos dá coragem. Mesmo sabendo que amanhã vamos embora, vou alegre e satisfeito, porque não vamos ficar aqui materialmente, virar pedra, não é? Temos que fazer nossa partida. Como ele disse: "Vou na frente, abrindo o caminho".