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Contavam, por exemplo, que, quando iam homens e mulheres à sua casa, Mestre Irineu dava um dedo da sua beberagem e os deixava todos atordoados, levando, então, as mulheres para a mata, onde fazia com elas o que queria.


Decidiram impulsionar o Tenente do Exército Holdernes Maia a carregar sua pistola com munição de calibre 45 enquanto se aprontava para ir ao terreiro da Custódio Freire.


Pensou Holdersnes: “Se é verdadeiro o que dizem, meto bala em todo mundo”.


Para Holdernes aquela era a sua última oportunidade. Passara os últimos 16 meses recorrendo aos hospitais do Rio de Jnaeiro. Esteve internado em um Hospital Central do Exército e depois num Hospital da Polícia e depois na Policlínica Geral, foi operado no Botafogo e voltaram a interná-lo na Casa de Saúde de Santa Rita do Rio Comprido, de onde lhe mandaram para o Hospital dos Servidores do Estado. E assim foi indo de um para o outro, pois sua cirrose estava definitivamente em fase terminal e o que melhor ele podia fazer dos últimos meses de vida que lhe davam era passar com sua família.


Então regressou a Rio Branco, para esperar seu final com sua mulher e seus quatro filhos.


Holdernes se inteirou de que havia na cidade um homem negro que curava e se dispôs a queimar um último cartucho em prol de sua vida. Teve que recorrer a suas influências para poder arranjar um cavalo, em uma tarde de inverno, assim atravessou as dificuldades da estrada para chegar à Custódio Freire. Foi uma dura travessia. Ele, sem nenhum governo do seu intestino, chegou ao Alto Santo amarelo, esgotado, empapado com suas fezes. Lá tiveram que descê-lo do cavalo e um corpulento negro que fumava tabaco puro saiu a recebê-lo.


Holdernes lhe contou em poucas palavras o seu caso, o outro o ouviu com naturalidade e lhe disse: “Eu estava lhe esperando. Deus não desengana ninguém, eu aqui curo com essa bebida. Você quer se curar?” Holdernes lhe advertiu que faltava coragem. O Tenente Holdernes assistiu aquele homem que lhe serviu meio copo de um líquido pardo e lhe soprou um bocado de fumaça do seu cigarro.


Nesse dia Holdernes só tinha ingerido uma infusão, e logo depois de tomar daime começou a passar mal. Chegaram fortes sensações de vertigem e mal estar que ameaçavam derrubá-lo. Holdernes fez seus rogativos e sentiu como se algo se partisse dentro dele. Sabia que a pele que envolvia seu fígado estava solta, como água podre, que de pronto, foi parar no estômago. Vomitou tudo aquilo sentindo que em cada golfada lhe dava alívio em todo o seu corpo.


Holdernes se restabeleceu em seguida de sua crise e passou a frequentar as sessões do Alto Santo. Entre Mestre Irineu e o militar surgiu uma amizade que perduraria através dos anos. Este ascendeu a Major do Exército e passou a ser Assessor Militar do Governo do Acre.


Assim se erguera um dos mais eficazes escudos contra as perseguições de que Mestre Irineu fora objeto.