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Meu pai nasceu no Ceará. Veio para o Acre cortar seringa. No seringal, casou-se com minha mãe, Nazaré. Do seringal, ele veio para Rio Branco. Aqui eu nasci e aqui terminou o tempo dele. Ele nos doutrinando na Igreja Católica. Depois ele adoeceu, veio para cá, para a companhia do padrinho Irineu, tratou-se, ficou bom.

 

Meu pai faleceu com 62 anos, em 1946. Minha mãe morreu quando eu tinha dois anos. Aí ele casou-se com Dona Maria, que acabou de me criar e ainda hoje reside aqui, no Alto Santo, com Adália. Com Dona Maria, minha madrasta, meu pai concebeu quatro filhos. Tem dois vivos e dois falecidos. Do primeiro matrimônio, que eu conheci, éramos cinco, agora só tem eu. Do segundo matrimônio, está viva é Dona Adália e o Zé Gomes. Morreu o casal mais novo, ficou o casal mais velho. Então nós nos encostamos aqui, onde o Mestre trabalhou e lutou. Depois ele foi-se embora e nós ficamos aqui. A gente vem lutando para seguir no mesmo rastro dele, com muita dificuldade.

 

Quando nós começamos a trabalhar com o Mestre, ele morava na Vila Ivonete, onde hoje em dia trabalha o Antônio Geraldo. Dos troncos que nós encontramos aqui, só tem a Percília. Nesse tempo tinha a comadre Maria Damião com o marido, tinha o seu João Serra com a esposa, o seu Manuel com a esposa, o Germano - que foi o meu primeiro marido, tinha o João Pereira, Maria Franco - que era a ex-sogra do velho Irineu, tinha Dona Raimunda que foi a primeira esposa do Mestre - que conhecemos, tinha Antônio Tordo - que era cunhado dele. Nessa época era pouca gente, muito perseguido pela justiça. Era aquele sacrifício! Mas tudo a gente venceu e hoje nós vivemos uma situação mais favorável. Daí ele vendeu lá e veio para cá. Foi aqui que ele liberou. Guiomard Santos deu a mão a ele e ajudou.

 

Pois é. Teve humildade e hoje ele é senhor. Senhor Irineu! Homem de respeito! Então a gente se conheceu nessa batalha. Eu era muito criança, residi dentro da casa dele e saí da casa dele casada. Casei com Germano Guilherme em 1943. Passamos juntos 24 anos. Eu tinha 16 anos e Germano 42. Germano era cearense, mas era naturalizado como acreano. Na época que ele veio para cá não tinha esse negócio de documento. Germano faleceu em 1964, com 62 anos.

 

Quando nós chegamos aqui, padrinho Irineu tinha dez hinos. Maria Damião tinha três. Maria Franco tinha quatro (ela era mãe de Dona Raimunda e foi casada com João Pereira). Era assim. Bem pouquinho. Na noite de São João nós tomávamos Daime a noite toda. Na concentração, tinha macaxeira insossa, cantávamos aquele hino da refeição, etc. Quando terminava, tomava Daime de novo e concentrava. Aí passava a noite inteira concentrada, fazia pouco hinário. Cada um cantava seu hino três vezes. E assim ele trabalhava. Primeiro em sua casa, depois fez uma sede pequena, depois aumentou mais um pouco e assim foi seguindo.

 

Ele foi embora. Foi e não foi. Ele está aqui, tudo bem encaminhado. Ainda hoje recebi notícias do Rio de Janeiro, coisa que não existia. Era só aqui. Hoje vem do Rio de Janeiro, do estrangeiro, daqui, de acolá. Tudo nasceu dele e é dele. Isso para a gente é uma tranqüilidade, é um prazer estar vendo as palavras que ele dizia se tornarem realidade:

 

- Esta Doutrina vai ser dominadora do mundo inteiro.

 

Eu pelo menos tenho o prazer de estar alcançando, pois a palavra dele está vigorando eternamente, crescendo, multiplicando em todo o universo. Isso, para a gente que lutou com ele, que conheceu e ouviu ele dizer, é um prazer enorme. Ele dizia para a gente:

 

- Olha, vocês trabalhem, aprendam – concentrar, conhecer, compreender –, que vai chegar um tempo em que o Daime vai ficar tão difícil que os antigos só fazem sentir o cheiro, porque vai chegar muita gente.

 

Os antigos tinham que fazer aquela força para aprender, para saber dar uma explicação. Eu pelo menos pensava que ele nunca ia sair de perto de mim. Mas com tudo isso eu agradeço muito a ele, porque ele não despreza nenhum de nós. A gente sabendo pedir, ele vem!

 


 

Essa primeira vez, o Antônio Costa levou o Mestre para participar de uma sessão com um pessoal na selva peruana. Eram uns caboclos que bebiam a ayahuasca. O cipó, tinha vários nomes, os nomes que os índios davam. Mas lá o pessoal fazia um trabalho de magia negra. Bebiam ayahuasca para chamar o demônio. O Mestre não quis saber dessa história, porque ele tinha uma missão maior, que era fazer o bem, curando com o daime.