CICLU - Flor do Céu

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"Senhores e Senhoras,

 

O meu esposo, o Mestre Raimundo Irineu Serra, fundador do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo, do qual sou a dignitária, antes de se despedir deste mundo não se cansava de nos advertir e nos preparar em relação àqueles que viriam a macular a história de sua doutrina, que foi consolidada na Terra com enorme sacrifício dele e de seus primeiros seguidores.

 

Em inúmeras ocasiões, de modo persistente, Mestre Raimundo Irineu Serra deixou claro que o amor e a lealdade eram as virtudes mais valiosas que esperava dos seguidores da doutrina.

 

Dirigindo-se a todos, o seu apelo final, tão repetido, nos advertia a respeito do que sucederia até os dias atuais, após a passagem dele para o mundo espiritual.

Foram estas as palavras da instrução que o Mestre Raimundo Irineu Serra nos legou:

 

- Quando eu me ausentar daqui, vocês reunam, tomem Daime e me chamem que eu venho. Não me deixem inventar moda e ninguém queira ser chefe. O dono daqui sou eu.

 

Os 68 anos de minha vida, desde o meu nascimento, têm sido dedicados aos ensinos de Raimundo Irineu Serra. As palavras e os ensinos dele me dão força suficiente para permanecer em lealdade como testemunha privilegiada do legado histórico da sua doutrina.

 

Não há, entre os que prestigiam este Seminário, ninguém que tenha chegado ao CICLU-ALTO SANTO sem que eu não já estivesse lá, na saudosa companhia do Mestre Raimundo Irineu Serra, de meus pais Sebastião e Zulmira, do meu avô Antônio Gomes da Silva, e dos meus tios Lêoncio, Raimundo e Guilherme Gomes da Silva.

 

Desde que o Mestre Irineu se ausentou materialmente, o CICLU-ALTO SANTO várias vezes foi alvo de salteadores, que ousaram se contrapor àquela advertência de que o seu fundador é e sempre será o dono.

 

Muitos falam, da boca para fora, claro, em amor e união, mas esquecem que se tivessem cultivado o amor e o espírito de união em seus corações até hoje estaríamos reunidos no mesmo Centro de Iluminação Cristã Luz Universal, no Alto Santo.

 

Mas na realidade muitos se deixaram dominar pelo egoísmo e passaram a cultivar substâncias e elementos doutrinários de origens diversas em profundo desalinho com a essência da doutrina que conheceram enquanto estiveram com Raimundo Irineu Serra.

 

Não existe ninguém que tenha recebido autorização do Mestre Irineu para se declarar dono ou continuador de sua infinita obra.

O que ele fez foi permitir, temporariamente, que duas pessoas - uma em Rio Branco e outra em Porto Velho (RO) - reunissem seus familiares para tomar Daime em razão da distância que moravam.

 

Mas, por ordem do Mestre Irineu, meses antes de sua partida as permissões foram canceladas por Leôncio Gomes da Silva, meu tio, presidente eterno do CICLU-ALTO SANTO.

 

Noutro caso, o saudoso Daniel Pereira de Mattos, conterrâneo e amigo do Mestre Irineu, recebeu dele um grande benefício para a sua saúde, em 1937. Daniel chegou a receber Daime do próprio Mestre e recebeu a revelação de sua própria linha de trabalho.

 

Ele procurou o Mestre Raimundo Irineu Serra e o comunicou, tendo o Mestre o apoiado, dando-lhe cinco litros de Daime e o incentivado a que seguisse com o seu trabalho. A casa de Daniel Pereira de Mattos foi edificada sem que fosse necessário surrupiar nada de outra casa. É por isso que os laços de admiração e respeito mútuos permanecem até hoje entre os dois centros.

 

A proliferação de centros que usam indevidamente os hinos e os símbolos da doutrina do Mestre Raimundo Irineu Serra é da absoluta responsabilidade de cada um que assim procede. Todos têm que prestar contas dos trabalhos que vêm fazendo.

 

A tentativa de evangelizar ou de doutrinar o mundo com o uso da ayahuasca contraria os princípios da doutrina, que é esotérica e não pode ser confundida com as religiões que se dedicam a arrebanhar fiéis.

 

O Mestre Irineu costumava dizer o seguinte:

 

- O meu Daime é para todos, mas nem todos são para o meu Daime. Pelo meu Daime eu me responsabilizo.

 

Além disso, deixou expresso no Decreto de Serviço, que é o que nos norteia como organização esotérica, a proibição de convidarmos pessoas para as nossas reuniões.

 

Não existe nenhum centro filiado ao nosso CICLU-ALTO SANTO e, para evitarmos problemas, continuamos cumpridores das ordens que nos foram deixadas por Raimundo Irineu Serra. Nós não criamos nada. Nós não inventamos nem permitimos a moda que o preocupava.

 

Nós temos a certeza de que ele é o dono. Tudo o que herdamos no CICLU-ALTO SANTO é fruto da inspiração divina de Raimundo Irineu Serra.

 

Foi ele que nos ensinou que pertencemos a um centro de instrução, de sabedoria divina, do caminho do bem. Foi ele que nos ensinou, ainda, a receber a todos aqueles que o procuram por livre e espontânea vontade.

 

Toda a minha luta à frente desse centro é para manter os ideais da replantação do cristianismo, da prosperidade e evolução pessoal de cada um de seus membros, dentro do civismo e do respeito às leis do nosso país, conforme o Mestre Raimundo Irineu Serra nos instruiu.

 

Nós tomamos Daime. Apenas Daime. Daime do Mestre Raimundo Irineu Serra.

 

Daime foi o nome com o qual o Mestre Raimundo Irineu Serra batizou a ayahuasca, que outros posteriormente apelidaram de Daime.

 

O Daime do Mestre Irineu, o Daime pelo qual ele se responsabiliza eternamente, continua sendo preparado e servido no CICLU-ALTO SANTO no rigor do ritual deixado por ele, a partir do cozimento de apenas três substâncias: água, folha e jagube.

 

Os que freqüentam o CICLU-ALTO SANTO tomam o Daime apenas nos dias de trabalho, cujo calendário foi estabelecido em vida pelo fundador. Não têm sequer Daime em casa, para evitar risco de uso inadequado.

 

A polícia, os fiscais ambientais e a vigilância sanitária dos governos estadual e federal podem ficar despreocupadas porque jamais vão flagrar alguém do CICLU-ALTO SANTO transportando cipó e folha ilegalmente ou comercializando Daime e muitos menos com conduta alterada nos círculos sociais.

 

Eu compreendo a legião de dissidentes do centro fundado pelo Mestre Raimundo Irineu Serra: é mais fácil se retirar e passar a se organizar como bem entendem do que se adequar à disciplina que lhes era exigida no CICLU-ALTO SANTO.

 

Para mim tem sido doloroso acompanhar a banalização da ayahuasca. Digo ayahuasca de modo genérico porque não é Daime do Mestre Irineu o que tem sido confundido com droga, distribuído e vendido abertamente no comércio mundial.

 

Quem toma Daime, Daime do Mestre Irineu, comporta-se de modo muito diferente dos que promovem as transgressões, que são do conhecimento da opinião pública, dentro e fora do país.

 

Nós não nos perfilamos no batalhão daqueles que se revelam fanáticos por ayahuasca. O Mestre Irineu nos advertiu que estivéssemos sempre preparados porque a doutrina dele prescinde da bebida.

 

Tenho me resignado junto com meus irmãos diante de tudo. Ao pedir aos seus seguidores que quando se ausentasse do CICLU-ALTO SANTO eles se reunissem para tomar Daime e o chamassem, que ele estaria presente, e que não deixassem inventar moda ou quisessem ser chefes, pois ele é o dono, Mestre Raimundo Irineu Serra nos deu a instrução de como nos comportar para proteger e seguir a sua doutrina.

 

Mestre Raimundo Irineu Serra costumava também dizer o seguinte:

 

- A casa da Mamãe está cheia, mas os meus eu ponho na palma da mão.

 

Ainda que muitos até contestem, mas a verdade é que o Mestre Irineu e eu somos os donos desse trabalho. Eu sou a responsável pelo CICLU-ALTO SANTO.

 

Não é uma posição confortável para quem nasceu, cresceu e até hoje vive dedicada a proteger a doutrina em sua essência.

 

Falo desse desconforto porque diariamente sou golpeada por salteadores, usurpadores e charlatões que maculam a história, os hinos, os ensinos e os símbolos da sagrada doutrina do Mestre.

 

Espero contar com a sensibilidade e a colaboração das autoridades do governo brasileiro, que querem constituir um Grupo Multidisciplinar de Trabalho de pesquisadores para o levantamento e acompanhamento das aberrações que vêm sendo praticadas com o uso indevido da ayahuasca.

 

Elas podem contar com o meu apoio e colaboração caso julguem necessário providências enérgicas, como a proibição do transporte interestadual e a exportação do jagube, da folha e da própria ayahuasca - o que serviria para conter o comércio da bebida e o tráfico de outras substâncias associadas à proliferação descontrolada de centros de pretensa iluminação cristã.

 

Na condição de dignitária do CICLU-ALTO SANTO, quero me abster de pedir votos para representar ou ser representada como dirigente de quaisquer dos centros usuários de ayahuasca.

 

Discordo do critério de representatividade adotado pelos organizadores desse evento, que chega ao ponto de classificar um grupo de dirigentes como pertencentes a uma suposta "linha do Mestre Irineu ou do Alto Santo".

 

Tomo essa decisão porque nunca enfrentamos qualquer problema de ordem pública que demandasse a preocupação das autoridades do nosso país.

 

Nada do que possa vir a ser proposto ou decidido por cientistas e representantes dos demais centros vai afetar a condução histórica dos trabalhos no CICLU-ALTO SANTO, que é o único estabelecido na Terra por Raimundo Irineu Serra e do qual sou a dona.

 

O Centro de Iluminação Cristã Luz Universal está situado na minha propriedade particular, denominada por meu saudoso esposo como Alto Santo. O Alto Santo não é um bairro ou uma comunidade. Trata-se de uma área onde o Mestre Raimundo Irineu Serra construiu o Centro e a casa na qual ele e eu convivemos.

 

Espero que respeitem ao menos o meu direito de não ter o nome do CICLU-ALTO SANTO associado aos centros que têm surgido no bairro Irineu Serra nos últimos anos.

 

Embora estejamos próximos, no mesmo bairro, e tenhamos convívio pacífico, na realidade estamos separados pelos fatos que estão expostos até aqui.

Portanto, a todos aqueles que transformaram a ayahuasca em mercadoria e usurpam a doutrina do Mestre Raimundo Irineu Serra, devo dizer-lhes: cada um responderá por seus atos, pois "a Justiça de Deus é reta, no mundo e no astral".

Quando a Rainha da Floresta entregou ao Mestre Raimundo Irineu Serra a missão de replantar a doutrinha de Jesus Cristo, ela o avisou que ele não ganharia dinheiro com isso.

 

Sem o fanatismo que tem imperado, nós vamos continuar a seguir na missão de Raimundo Irineu Serra. Os ensinos e as preleções do Mestre estarão sempre a nos guiar. Para finalizar, repito aqui as palavras dele:

 

- Quando eu me ausentar daqui, vocês reunam, tomem Daime e me chamem que eu venho. Não me deixem inventar moda e ninguém queira ser chefe. O dono daqui sou eu.

 

Este é o meu ponto de vista para esta reunião, para a qual designei como representantes do CICLU-ALTO SANTO os jornalistas Altino Machado e Antonio Alves.

 

Alto Santo, 8 de março de 2006

Peregrina Gomes Serra
Dignitária do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal
Alto Santo

 


 

 

O Guiomard dos Santos vinha aqui, passava dias aqui em casa conversando com ele. Uma vez ele chegou, o velho estava no roçado. Aí, ele mandou chamar. Disse: “Ora, Irineu, eu venho aqui passar o dia contigo e tu estás no roçado, acaba com isso, tu não é pra trabalhar assim.” Aí o velho respondeu: “Eu tenho que trabalhar porque não tenho quem me dê nada.” O Guiomard então disse: “Eu vou te aposentar como veterano, tu queres?” Mas ele respondeu: “Não, eu não quero porque não sei mentir.”

 

Ele havia se separado recentemente da antiga esposa, Raimunda. Eu tinha medo da ex-mulher e da sogra dele, achava que elas podiam armar alguma confusão, ao mesmo tempo temia não dar conta da responsabilidade, nunca tinha cozinhado, não sabia tomar conta de casa, ainda mais uma casa como aquela, frequentada o dia todo por muita gente, inclusive políticos importantes. Por isso recusei a proposta feita por ele, mas quinze dias depois voltei atrás e falei que aceitava.

 

Ele era um homem muito alegre, gostava de brincar. Podia ser qualquer hora do dia, ter muito trabalho na cozinha, o que fosse, mas, se tocava uma música animada no rádio ele pulava na sala e dizia: “Venha daí uma dama de ouro pra dançar com um cavalheiro de prata.”